Carta do Patriarca de Lisboa ao clero e comunidades cristãs no início do ano pastoral 2025/2026

Reverendíssimos Padres,
Caríssimos Irmãos,
No início de um novo ano pastoral, ainda no ritmo do Jubileu e já na iminência de recomeçar as visitas pastorais, o Senhor chama-nos a renovar o ardor missionário e a redescobrir a beleza de sermos Igreja que vive, anuncia e testemunha o Evangelho no meio do mundo. Não é outra a missão da Igreja senão evangelizar, ou seja, fazer brilhar a luz do Evangelho em todas as dimensões da vida humana. Também nós, como comunidade diocesana, queremos deixar-nos guiar pelo Espírito para sermos uma Igreja missionária, capaz de escutar, anunciar e convidar à conversão.
A missão começa sempre pela escuta. Antes de falar, é necessário aprender a escutar: a Deus na oração, a Sua Palavra nas Escrituras e os irmãos no concreto das suas vidas. A Sagrada Escritura mostra-nos como a escuta é o primeiro passo da fé: «Escuta, Israel! O Senhor é nosso Deus; o Senhor é único!» (Dt 6, 4). No entanto, quando somos convidados a escutar o Senhor, damo-nos conta de que, em primeiro lugar, foi Ele, como Pai de Amor, que nos escutou, que esteve atento aos anseios mais profundos do nosso coração: «Eu bem vi a opressão do meu povo que está no Egipto, e ouvi o seu clamor» (Ex 3, 7). Deste modo, a dinâmica da escuta torna-se constitutiva da vida de fé, não como exercício exterior, mas como entrada numa dinâmica que nos introduz na vida divina. A primeira ouvinte da Palavra que nos aparece como modelo de acolhimento é a Virgem Maria, que «conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração» (Lc 2, 19). Todos os discípulos de Cristo são chamados à escuta, como o Senhor Jesus indica: «As minhas ovelhas escutam a minha voz: Eu conheço-as e elas seguem-me» (Jo 10, 27). Deste modo, se queremos constituir-nos em estado permanente de missão (cf. Francisco, Exortação Apostólica Evangelii gaudium, n. 25), somos chamados a crescer na escuta da Palavra, na escuta da oração e na escuta das pessoas — sobretudo dos que mais sofrem ou se encontram afastados.
Da escuta da Palavra, nasce um segundo passo: «nós acreditamos e por isso falamos» (2 Cor 4, 13). Da escuta brota o anúncio. Quem escuta verdadeiramente a Palavra não pode guardá-la para si, mas sente a urgência de a partilhar: «Ai de mim, se eu não evangelizar!» (1 Cor 9, 16). O nosso anúncio deve ser feito com palavras, mas sobretudo com gestos, com vida coerente, com testemunho de caridade, na busca da santidade. Uma Igreja missionária não se fecha nas suas estruturas, mas abre-se ao mundo para levar a todos a alegria do Evangelho, correspondendo ao mandato que recebeu de Jesus: «Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura» (Mc 16, 15). Deve-se tornar algo incontornável na vida de qualquer cristão, como experimentavam os primeiros cristãos: «Não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos» (At 4, 20).
Chegamos, assim, ao terceiro passo, que nasce da escuta e da evangelização: o anúncio autêntico não deixa ninguém indiferente. Provoca uma resposta, chama à conversão. Não pode ser algo só teórico, mas é uma resposta que envolve toda a vida, tudo o que somos e queremos. Por isso, há a centralidade do convite à conversão de forma clara, desde o início da vida pública de Jesus: «Arrependei-vos e acreditai no Evangelho» (Mc 1, 15). A conversão é a condição de possibilidade do acolhimento da vida divina, como proclamava o Apóstolo Pedro no dia de Pentecostes: «Convertei-vos e peça cada um o batismo em nome de Jesus Cristo, para a remissão dos seus pecados; recebereis, então, o dom do Espírito Santo» (At 2, 38). Deste modo, a conversão não é ato de um momento só, mas uma realidade contínua, como indica o Apóstolo Paulo: «Não vos acomodeis a este mundo. Pelo contrário, deixai-vos transformar, adquirindo uma nova mentalidade, para poderdes discernir qual é a vontade de Deus: o que é bom, o que lhe é agradável, o que é perfeito» (Rm 12, 2). Converter-se é voltar-se para Deus com todo o coração, deixar que Cristo renove a vida e assumir o caminho da santidade e da missão. Como pastor, convido toda a Diocese a este caminho: conversão pessoal, conversão pastoral e conversão missionária.
Queridos irmãos e irmãs, este é o tempo favorável. O Senhor chama-nos a ser uma Igreja que escuta com fé, anuncia com alegria e convida à conversão com esperança. Só assim nos tornaremos realmente missionários, fermento de Evangelho no meio do mundo. Peço-vos que, em cada paróquia, comunidade, movimento, família e grupo, façais destes três verbos — escutar, anunciar, converter — a bússola deste ano pastoral. Confio-vos à intercessão da Virgem Maria, Mãe da Igreja e primeira discípula missionária, e desejo a todos vós um bom e santo ano pastoral.
Lisboa, 16 de Setembro de 2025
† RUI, Patriarca de Lisboa